A tragédia que afetou 70 mil alagoanos em
junho de 2010 completa três anos na próxima terça-feira, ainda sob um rastro de
angústia para centenas de famílias. Nesta dia a reportagem da Gazeta de
Alagoas percorreu alguns dos municípios mais castigados pelas enchentes e
constatou que muitas casas construídas para atender aos desabrigados estão
abandonadas literalmente, tomadas pelo mato ou ocupadas por pessoas que não têm
relação direta com a tragédia. O repórter Davi Soares foi a Murici,
Santana do Mundaú, Branquinha e Rio Largo e encontrou conjuntos populares
inteiros ainda sem estrutura, faltando energia, água e rede de esgoto. Uma
escola ameaça ser engolida por uma cratera por causa de falhas no projeto.
Também há pessoas morando num motel abandonado.
Helenice
Poliana Ferreira da Paz Santos não aceita a pecha de invasora. E voltou para a
casa da sogra, em uma ladeira íngreme onde foi acolhida ainda grávida de Pedro
Makson, que também deve completar três anos em breve. Uma criança que já viveu
tempo suficiente para nascerem todos os seus vinte dentes de leite. E ficou de
pé muito antes da primeira casa do conjunto onde sua família espera morar, sem
ser enxotada por uma ordem judicial. Poliana revela que se não fosse a
companhia do marido Pedro e ainda de seu outro filho Pedro Eduardo, poderia ter
tirado a própria vida de tanta angustia. “Perdi tudo. Sei que sofri tanto,
grávida desse menino na cheia. Foi quase uma semana dormindo num colchão
ensopado. Ele nasceu cheio de bagulha de pus. E esses dias eu tava chorando
sozinha, dentro de casa, pensando: ‘Meu Deus, dá vontade de eu me jogar debaixo
de um carro!’. Porque são três anos e a gente esperando. Por enquanto, não
estou lá, porque não tem água nem energia. E a gente fica assim, sem uma
assistência, sem uma resposta certa, sem nada. É para o cabra endoidar o juízo,
viu? Porque três anos não são três dias, amigo! Veio dinheiro que o Governo
Federal mandou para fazer essas casas todas. E esse dinheiro entrou aonde? A pessoa
fica revoltada!”, protesta Poliana, com o filho da enchente nos braços. ( Artigo extraído da Gazeta de Alagoas ).
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